Entrevistas

Interação entre a literatura e a teologia

Interação entre a literatura e a teologia

Maria Clara Bingemer é a presidente da Alalite e afirmou que a realização do Congresso é fundamental para o mundo de hoje. Foto: Amanda Dutra

Para discutir a mística e a poesia presentes na literatura e na teologia, a Associação Latino-Americana de Literatura e Teologia (Alalite) promove o VII Congresso Internacional de Literatura e Teologia. De terça, 25, a quinta-feira, 27, no Auditório do RDC, vão ocorrer diversas palestras, apresentações de trabalhos e painéis sobre o tema. A presidente da Alalite, professora Maria Clara Bingemer, do Departamento de Teologia explica como será o encontro e a importância da realização do projeto.

Quais são os objetivos do Congresso?

Maria Clara Bingemer – A Alalite é uma associação latino-americana de literatura e teologia que pesquisa as interações entre teologia e literatura e lê poetas que também trabalham na fronteira com a religião, com a ciência da religião e a teologia. É uma associação jovem, fundada em 2007, que está crescendo e reúne pesquisadores, estudiosos e pensadores da área. O congresso tem um tema central e pretende reunir alguns desses pensadores e pesquisadores para difundir a relação e sintonia entre a teologia e literatura. Esse é o objetivo principal, divulgar as pesquisas, fazer com que pesquisadores e estudantes se conheçam, promover a difusão do pensamento e da interação entre teologia e literatura.

Quais são os principais temas abordados no congresso?

Maria Clara – O tema central do congresso é mística e poesia, então haverá duas conferências sobre São João da Cruz, que é um grande poeta místico. Também vão ter reflexões sobre diferentes místicas, como a judaica e a cristã, e a literatura, e também a religião no contexto afro-brasileiro, caribenho e as obras literárias que têm a ver com isso entre outros temas. Vamos ter também, no início de cada dia, uma apresentação cultural. No primeiro dia, o Danilo Caymmi vai cantar e ser entrevistado pelo Decano do Centro Técnico de Ciências Humanas (CTCH), Julio Diniz. No segundo dia, vamos ter um grupo de chorinho e no terceiro dia o coral Sacra Vox, que vai apresentar algumas peças. Porque a literatura é a arte da palavra, mas todas as artes também entram na questão da mediação hermenêutica, como as artes plásticas, a música. Buscamos englobar todas as artes.

Quem são os convidados para o congresso?

 Maria Clara – Temos o conferencista de abertura que é Dom José Tolentino, Arcebispo da Igreja Católica e bibliotecário do Vaticano. Ele foi nomeado e assumiu o cargo agora, e, por isso, não pode vir presencialmente, mas vamos ter ele em videoconferência. Depois temos o professor Leandro Garcia que é professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que vai expor sobre a relação entre Alceu Amoroso Lima e George Bernanos, que são dois escritores católicos. Depois temos o presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marco Luchesi, escritor, professor de literatura comparada, e vai falar sobre teologias da distância. Finalmente, temos uma conferencista de Porto Rico, professora Luce Lopez Baralt, que vai fazer um estudo comparativo entre São João da Cruz, que é um poeta cristão e carmelita, e o Islã. Esses são os principais conferencistas, mas haverá painéis com especialistas e pessoas que escreveram e vão apresentar os seus trabalhos.

Qual a importância de discussões como essas no mundo de hoje?

Maria Clara – Acho que em um momento como hoje, vivemos um processo de secularização acelerado, em que a religião já não é mais uma crença herdada, mas é uma escolha pessoal, e o cristianismo histórico não se apresenta mais como a religião hegemônica ou única até, sobretudo em países latinos. As mediações hermenêuticas para trabalhar os conteúdos da fé cristã, que tiveram uma importância visceral na configuração do Ocidente como cultura, como civilização e tal. Tradicionalmente, essa mediação foi feita pela filosofia, depois, na América Latina, as ciências sociais entraram com a mediação fundamental. A sociologia, a história, a teologia da libertação usou muito dessas mediações. Hoje a literatura é uma mediação importantíssima, para pensar a questão da teologia, as afinidades entre o texto literário e o texto bíblico, que é inspirado em uma e outra área. Eu acho que isso é algo muito importante e que recoloca a religião e a fé no debate e nas grandes discussões culturais hoje. A literatura tem sido em muitas situações no mundo inteiro o canal de expressão de vozes que não encontravam como chegar a, realmente, serem ouvidas se não fosse pelas obras literárias.