Entrevista

Interligar Saberes

Interligar Saberes

Jackeline Farbiarz é Vice-Reitoria de Extensão e Estratégia Pedagógica e organizadora do I Congresso Internacional de Extensão Universitária. Foto: Caio Matheus

O I Congresso Internacional de Extensão Universitária da PUC-Rio: Desafios Complexos irá integrar universidades para fomentar um diálogo intercultural em questões ambientais e universitárias. A Vice-Reitora de Extensão e Estratégia Pedagógica, Jackeline Farbiarz, explicou as motivações e a importância do encontro. Confira a programação aqui.

A Vice-Reitoria de Extensão e Estratégia Pedagógica realiza o I Congresso Internacional de Extensão Universitária da PUC-Rio (CIEXT), organiza e sedia o Critical Edge Alliance (CEA) e tem a parceria da Programa Universitário Amazônico (PUAM). Como essas iniciativas podem contribuir para a discussão sobre a extensão universitária?
Jackeline Farbiarz:
A Conferência Anual da Critical Edge Alliance representa um movimento global de colaboração entre universidades de diversos países, comprometidas em promover um ensino superior que seja ao mesmo tempo crítico e transformador. Entre seus ideais estão: participação democrática, inclusão e justiça social; empatia para com a diversidade e a pluralidade; diálogos e parcerias interinstitucionais; aprendizagem ativa e mútua para o desenvolvimento pessoal e comunitário. Integrar a Conferência ao Congresso de Extensão é uma oportunidade de aproximar a Aliança de nossa comunidade, de refletirmos juntos sobre os passos até aqui construídos, em um percurso que passou a ter a presença da PUC-Rio em 2016. É também uma oportunidade para refletirmos sobre pesquisas, projetos e ações futuras, em especial considerando a ênfase em aprendizagem, autonomia e envolvimento social que seus membros reconhecem como base. Já o Programa Universitário Amazônico tem sua proximidade com a PUC-Rio como decorrência da nossa participação na Associação das Universidades Confiadas à Companhia de Jesus na América Latina (AUSJAL). Com a PUC-Rio, foi desenvolvido o Atlas Panamazônico como contribuição ao Sínodo da Amazônia em 2019 e, atualmente, integramos o Programa com o objetivo de contribuir para que modos desenvolvidos na Amazônia, junto com as comunidades locais, possam ser reconhecidas em toda a América Latina. Para tanto, há o acompanhamento da UNESCO. Reunir diferentes redes, vários pontos de vista, diferentes, mas convergentes, nos dias 19, 20 e 21, é um exercício de aproximação que almeja colaborar para a formação de nossa comunidade na indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, abrir nossas portas em escuta e acolhimento, e antecipar futuras parcerias inscritas em sensibilidade e responsabilidade socioambiental.

Em que medida o Amazonizar será uma inspiração para o Congresso?
Jackeline Farbiarz:
Em muitos sentidos o Amazonizar dá continuidade e sintetiza o compromisso da PUC-Rio com a questão socioambiental, o equilíbrio ecológico e a justiça social. Em especial, ele atende ao chamado do Papa Francisco na Encíclica Laudato Si’, em seu convite para que nos comprometamos com nossa própria geração e com as futuras no entendimento de que tudo está interligado. Ecologia ambiental, social, econômica e cultural da vida cotidiana não se sustentam no caminho da fragmentação. Nosso projeto Saúde para o bem viver: Intervenções extensionistas em territórios vulnerabilizados foi contemplado no Programa de Extensão da Educação Superior na Pós-graduação (PROEXT-Capes) e vinculado aos metaprojetos Gávea do Rio e Amazonizar. A partir dele, temos reunido regularmente professores desenvolvedores de trinta outros projetos originários de diferentes departamentos, para nos reconhecermos em soma. Em comum, a compreensão de que é urgente nos encontrarmos em solidariedade intergeracional. Ou seja, no compromisso das gerações presentes com o uso dos recursos naturais, com a sustentabilidade em suas múltiplas dimensões, a fim de não privarmos as próximas gerações de um futuro responsavelmente antecipado. Nas reuniões, costumamos dizer que estamos somando o rio Rainha ao Rio Amazonas. Temos o que ensinar, temos o que aprender; temos com o que nos comprometer; temos a partir de onde nos inspirar. Regularmente, temos as propostas que encaminhamos para o Projeto Rondon contempladas. Assim, professores e alunos desenvolvem atividades de extensão junto a regiões que apresentam pluralidade étnico-cultural (indígenas, quilombolas, ribeirinhos, entre outros). São experiências únicas, múltiplos aprendizados. Desenhos regenerativos, trabalho colaborativo… Junto, muito a se fazer. Contribuir para a melhoria da qualidade de vida, agir frente aos frequentes abusos, a dura e violenta realidade, combater a pobreza, a devastação da natureza, enfim…do Rio Rainha ao Rio Amazonas e vice-versa. Tudo está interligado. Assim, trazer como ênfase o metaprojeto Amazonizar – apresentado para a comunidade universitária ainda no ano passado – engloba também em si todos os desafios que se elencam nos ODS da Agenda 2030 da ONU e oportuniza simultaneamente múltiplos aprendizados, múltiplas formas de estar e fazer originárias das distintas comunidades que habitam a Amazônia. Com isso, vimos a oportunidade de promover trocas de saberes intensas e potencializadoras da constituição de muitas e significativas ações em comum, ancoradas na indissociabilidade ensino-pesquisa e extensão que diferencia nossa universidade e repercute como excelência.

O Congresso terá a participação de lideranças quilombolas e indígenas. Como esses diálogos podem ajudar a construir parcerias e projetos inovadores que valorizam a interseção e a diversidade cultural?
Jackeline Farbiarz:
É pré-condição para a Extensão estar em escuta atenta e ativa. É pré-condição pedir licença para adentrar a casa alheia. O caminho é de mão dupla. Estar aberto para receber em escuta atenta e ativa é o compromisso de quem se reconhece inacabado, em processo, em relação dialógica. É dever da Extensão falar com/projetar com/agir com no lugar de falar/agir/projetar sobre (no sentido da verticalidade que o acima traz). Em diálogo, junto àquele que se diferencia de mim, é possível compreender conhecimentos diferentes que podem gerar ações para ou ações integralmente com, quando em interação algo surge estabelecendo a novidade, por exemplo. A casa alheia que participa do CIEXT e do CEA reúne comunidades diversas, ribeirinhos, quilombolas, indígenas; seu bioma conta uma história diferente daquela com a qual estamos acostumados. Apresenta formas próprias de ser e estar no mundo. Vive realizações e desafios que requerem a presença de suas vozes. Tê-los entre nós é um pressuposto ético. Ir até eles é outro. Para vivenciarmos uma ecologia integral, para significarmos em nós que tudo está interligado, é preciso que signifiquemos todos que as casas alheias a nós e as alheias a eles ganham sentido quando entendemos que as partes são fundantes da casa comum. É a soma das ações anteriores, dos projetos desenvolvidos entre nós; é o conjunto de visitas de ambos os lados anteriormente partilhadas que trouxe a aceitação para o convite que se realiza nos eventos. Algumas parcerias e projetos inovadores que valorizam a interseção e a diversidade cultural já existem, já existiram, estão sendo aquecidas no porvir. Ganham consistência a cada encontro, a cada acolhimento, a cada ato responsável em solidariedade intergeracional. Os projetos que integram o Programa de Extensão da Educação Superior na Pós-graduação (PROEXT-Capes) se comprometem a cultivarem isso, as lideranças aqui presentes e outras com as quais já estivemos também. Então, em soma, aprofundaremos, entre nós, saberes abertos a significações.