Entrevistas

Mantenedora e PUC-Rio em sintonia para fortalecer missão da Universidade

Por Felipe Scofield

Uma orquestra afinada. A partir dessa imagem, o presidente do Conselho Diretor das Faculdades Católicas, Pe. Carlos Fritzen, S.J., define a relação com a PUC-Rio. Convidado no ano passado pelo Superior Provincial dos Jesuítas do Brasil, Padre Mieczyslaw Smyda, S.J., para colaborar na presidência da Mantenedora da Universidade, Padre Fritzen não hesitou:
“Se você acha que eu posso ajudar, conte comigo”, prontificou-se o gaúcho de Campina das Missões. Assumiu o cargo em 16 de dezembro de 2024. Desde então, Padre Fritzen afina, com a PUC-Rio, estratégias gerenciais, políticas e acadêmicas que fortalecem a excelência transformadora e os compromissos humanitários da Universidade.
A Faculdades Católicas, associação mantenedora da PUC-Rio, tem como objetivo central fundar, manter e administrar todas as instituições de Ensino Superior que a integram. Sua principal tarefa é aprovar o Relatório de Gestão, o Balanço e as Contas Anuais para garantir uma boa gestão financeira da universidade.
Pró-reitor da Universidade Católica de Pernambuco e coordenador da Federação Internacional Fé e Alegria, Padre Fritzen é bacharel em Teologia e Filosofia pela atual Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP e está fazendo doutorado em Ciências Sociais e Humanas pela Pontifícia Universidade Javeriana, em Bogotá. A atuação em outros países, como o Nepal, é um destaque de seu currículo, conferindo-lhe amplitude de diferentes visões e perspectivas.
Em recente visita ao Campus da PUC-Rio, para sua apresentação formal, Padre Carlos Fritzen conversou com o PUC Urgente sobre caminhos, desafios e prioridades dessa afinação estratégica. O novo presidente do Conselho Diretor da Mantenedora aporta com perspectivas e visões otimistas para o ambiente universitário. Ele destaca, por exemplo, o Instituto Behring de Inteligência Artificial e parcerias com a China. Padre Fritzen ressalta que “seu principal foco é fortalecer a missão da Universidade, apoiando tudo que se pode e deve na gestão do Reitor, Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J.”. Neste sentido, confia na organização e na eficiência administrativa para pavimentar a convergência de esforços e objetivos.

Que aspectos convergiram para o convite ao cargo?
Tenho trabalhado muito no âmbito técnico de gestão e administração, ajudando em várias frentes universitárias. Sou pró-reitor Administrativo da Universidade Católica de Pernambuco, em Recife. Por essas razões, o Superior Provincial dos Jesuítas do Brasil, Pe. Mieczyslaw Smyda, S.J., me pediu que eu contribuísse na Mantenedora da PUC-Rio. Então respondi: “Se o senhor acha que eu posso ajudar, conte comigo”. Assim eu costumo agir quando recebo missões confiadas pela Companhia de Jesus.
Foi desta forma que o Padre Superior Provincial apresentou meu nome ao Cardeal Dom Orani Tempesta e ao diretor do Colégio Santo Inácio, Padre Adilson Silva, S.J., para que, juntos, como corpo e como Companhia, fortalecêssemos a missão da PUC-Rio, apoiando tudo o que pode e deve ser feito na gestão do Reitor, Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J.

Quais os desafios à frente da Mantenedora da PUC-Rio?
Minha prioridade inicial foi conhecer as seis décadas de história da Mantenedora da PUC-Rio. A partir daí, com a renovação do Conselho Diretor, começamos a estabelecer agendas que reforcem o propósito e o ritmo da associação. A Mantenedora tem o papel importante de apoiar a Universidade no cumprimento da sua missão social e institucional.
É pela Mantenedora que chegam, por exemplo, dados do orçamento e do balanço anual, dois instrumentos relevantes à administração. Isso marca uma linha de serviço e de apoio dessa orquestra que precisa estar sempre afinada com as exigências e as necessidades da gestão universitária.

Quais os principais elementos dessa convergência?
Os novos membros do Conselho Diretor traçaram, em conjunto com os membros que já o integravam, uma primeira fotografia dos desafios atualizados da PUC-Rio. Com isso, contribuímos para o desenvolvimento do Planejamento Estratégico 2024-2030 e o plano diretor para a sustentabilidade financeira.
Isso é extremamente importante, porque nos coloca todos em sintonia. Foi feita uma atualização de informações e estratégias que a PUC-Rio desenhou no seu planejamento para se fortalecer nos próximos anos. O propósito mais profundo é propiciar que a missão da PUC-Rio se realize, como tem sido feito. Esse afinamento é fundamental para a Universidade exercer seu papel transformador e voar cada vez mais alto.


Que estratégias impulsionam esses voos? Quais as expectativas para 2025?
Devemos, antes tudo, aprofundar o entrosamento entre as entidades que constituem a PUC-Rio. Estaremos atentos para terminar este ano mais fortalecidos. Esse entrosamento impulsiona iniciativas estratégicas, como os incentivos à vanguarda tecnológica e a parcerias com a China, que envolvem vários projetos e fortalecem o conjunto universitário.
O Instituto Behring de Inteligência Artificial é uma das iniciativas mais transformadoras em curso, inclusive para potencializar sistemas, processamento de dados e recursos de gestão da Universidade. Outra perspectiva importante refere-se à ampliação de financiamentos para pesquisa, por meio de estratégias como expandir as relações construídas com os chineses, assim como se construiu, por exemplo, com a Petrobras.
Essas e outras iniciativas reforçam o papel transformador, o compromisso humanitário e a excelência da PUC-Rio. Não estamos neste mundo para fazer qualquer coisa. Estamos neste mundo para fazer a diferença, para dar o melhor de nós. Essa entrega não tem preço. É muito importante que a expectativa esteja centrada no lado humano, nos estudantes da PUC-Rio. Eles são o centro da nossa missão.

Em que medida o Instituto Behring de Inteligência Artificial pode reforçar o compromisso social da PUC-Rio?
O estímulo à vanguarda tecnológica, associado ao uso responsável e expandido da IA, fortalece o compromisso histórico da PUC-Rio com os impactos sociais. Compromisso empenhado não só aqui no campus e na cidade, mas também em ações além do Rio de Janeiro. Os avanços tecnológicos vêm para revolucionar tanto o campo do trabalho quanto dos estudos. Isso amplia o compromisso da PUC-Rio com a inclusão, em projetos de longo prazo, na construção de alianças públicas e privadas, inclusive de alcance internacional.

A PUC-Rio também fortalece o compromisso ambiental, como se evidenciou, por exemplo, na Aula Magna ministrada pelo presidente da COP30, André Corrêa do Lago. Como a Mantenedora pode contribuir para aprofundar o alinhamento universitário aos esforços integrados pela sustentabilidade?
A compreensão é que todos estamos unidos pelas mesmas causas. Existe uma canalização de energias conjuntas à PUC-Rio, para sermos mais fortes e chegarmos mais longe. A união institucional de esforços revela-se extremamente importante, por toda a diversidade que é a PUC-Rio. Essa troca, essencial para que todos os lados possam se enriquecer, reflete-se nas contribuições para a causa ambiental.
A questão socioambiental está no centro das nossas preocupações. A PUC-Rio tem tido grandes projetos na área e deve continuar assim. A preocupação ambiental é inerente a tudo o que a PUC-Rio é e a tudo o que PUC-Rio faz. Portanto, é também preocupação da Mantenedora. Temos a consciência desse compromisso com a sustentabilidade socioambiental. Todos nós precisamos ter esse compromisso. A sustentabilidade pode ter muitas dimensões, mas se a ambiental é deixada de lado, todas as outras caem.

Como suas experiências internacionais auxiliam essas missões humanitárias e atribuições gerenciais?
A Universidade tem uma veia muito forte de internacionalização. Isso se relaciona com o enriquecimento mútuo proposto pela PUC-Rio. Quando nos abrimos para um universo tão grande de outras experiências, de outras práticas em outras culturas, com o foco na educação, tanto no ensino e na pesquisa, quanto na extensão, nós aprendemos muito. O mundo é uma grande escola.
O primeiro passo para o aprendizado é sair do narcisismo, abrir-se a aprender com o outro. Entender que as culturas são diferentes, cada qual com uma riqueza, uma sabedoria. Uma sabedoria que se põe em diálogo com outros.
Esse aprendizado complementa e potencializa muito o que também se aprende por meio dos livros. As experiências que eu tive em outros países e outras universidades confirmaram que, quanto mais a gente souber trabalhar em aliança com os outros, mais a gente cresce. É mais trabalhoso, mas, a longo prazo, é o que dá mais consistência aos resultados, ao crescimento das pessoas e
das comunidades.

Das experiências em outros países, qual foi a mais inspiradora ou cativante?
Cada cultura tem sua riqueza, como eu disse. Mas, se eu tivesse que escolher uma experiência especialmente inspiradora, seria a vivenciada no Nepal, onde os católicos representam o grupo religioso minoritário. Fora o contraste cultural, o projeto educacional do Nepal é impressionante, justamente pela união de todos os grupos, independentemente das diversidades, para promover a educação da população nas próximas décadas.
É respeitando o lugar em que cada um se encontra, cada crença, cada religião, que agora eles podem se reconstruir depois do terremoto. A educação é a grande estratégia em torno da qual se constrói a união. Isso não significa negar a própria identidade. Assim eles atingem os objetivos traçados e mostram como a educação é um meio para o sucesso.