Entrevistas

Novo reitor para a igreja da PUC-Rio

Por: Gabriel Meirelles

Novo reitor para a igreja da PUC-Rio

Padre Arnaldo Rodrigues da Silva chega com entusiasmo para assumir a missão de estar à frente da comunidade. (Foto: JP Araujo)

A Igreja do Sagrado Coração de Jesus, que fica no centro do campus da PUC-Rio, tem um novo reitor. Padre Arnaldo Rodrigues da Silva chega com entusiasmo para assumir a missão de estar à frente da comunidade. Doutor em Comunicação pela Universidade La Sapienza, de Roma, o sacerdote tem ampla vivência acadêmica e acredita que o ambiente universitário é propício para a interação entre fé e razão. Segundo padre Arnaldo, para que esta relação ocorra, o diálogo entre os conhecimentos é fundamental.

Quais são suas expectativas para a missão de ser reitor da Igreja do Sagrado Coração de Jesus na PUC-Rio?
Padre Arnaldo Rodrigues – É um desafio novo, diferente para mim, porque nunca trabalhei em uma igreja de ambiente universitário, mas as minhas expectativas são ótimas. Estou muito desejoso de trabalhar ali porque está exatamente dentro de um ambiente que eu gosto de estar: a vida acadêmica, universitária. São desafios diferentes dos que existem em uma realidade paroquial. Você tem até assistência espiritual, cultural, intelectual, tanto para alunos quanto para professores, funcionários, visitantes. É um lugar onde você tem contato com pessoas de diversas realidades, sejam católicas, não católicas, de outras religiões.

Como a sua experiência acadêmica e universitária pode influenciar na nova missão na Igreja?
Padre Arnaldo – Eu estudei praticamente a vida toda. Fiz faculdade de Gestão e Marketing, na antiga Universidade Gama Filho. Logo em seguida, Filosofia, Teologia, e, após um ano, já comecei o mestrado em Comunicação Institucional, em Roma, e depois o doutorado em Comunicação Social. Para mim, foi uma experiência muito boa, porque é uma realidade que eu gosto e pude ter a satisfação de estudar o que gosto, que é a área da Comunicação. A experiência de estudar em uma cidade onde você tem contatos com pessoas do mundo inteiro, de culturas diferentes, é um enriquecimento; não só na parte teórica dos estudos, mas também uma participação substancial da parte prática e cultural. Isto enriquece bastante e ajuda a termos uma visão de realidades um pouco diferentes. Tive oportunidade de estudar e tive excelentes professores de renome internacional, bibliotecas fenomenais. Não foi só o curso, houve um crescimento espiritual, cultural e intelectual.

Quais projetos o senhor já tem em mente para colocar em prática na Igreja do Sagrado Coração de Jesus?
Padre Arnaldo – O fundamental é estar disponível para os estudantes que forem procurar de forma sacramental e os que forem por curiosidade, para algum debate ou diálogo de crescimento. Estamos numa realidade de produção de pensamento. Nada pode ser excluído, mesmo que seja um pensamento diferente. O objetivo é proporcionar na igreja um espaço de diálogo e de encontro também. Estarei todos os dias de manhã, e algumas vezes durante a tarde, na Reitoria da igreja para atender, conversar, aconselhar.

É necessário marcar um horário na secretaria ou basta chegar e pedir atendimento?
Padre Arnaldo – Nós sabemos que, no ambiente universitário, todo mundo tem aula e horário. Normalmente, os alunos têm um tempo vago, então pode ser que, sem marcar, a pessoa chegue à igreja e tenha alguém na frente dela para ser atendida, e aí, de repente, ela não consegue atendimento no momento que ela tem disponível. Por isso, é importante sempre entrar em contato com a secretaria da igreja para marcar. Na realidade, não vai ser o meu horário disponível. Vai ser o horário da pessoa que procura. É bom sempre agendar para que a pessoa possa se programar durante a semana, durante o dia. Mas, claro, se a pessoa chegar, e eu não estiver ocupado, eu vou atendê-la.

Qual a importância de a PUC-Rio ter uma igreja viva, que atraia os jovens, estudantes e toda a comunidade acadêmica para Jesus Cristo?
Padre Arnaldo – Como já dizia o Papa Bento XVI, e depois o Papa Francisco também reforçou em outros discursos, o ser humano está constantemente em busca da verdade. Nós estamos em um ambiente em que a produção da ciência, do pensamento, é um fator muito determinante na vida das pessoas, e este conceito passa também e principalmente por ali. A Igreja pode ser um farol a guiar na busca da verdade, vivida também de forma acadêmica por meio do estudo e da pesquisa. Não à toa que a Igreja está no centro do campus, e não é acaso também que o padroeiro é o Sagrado Coração, um órgão vital no ser humano. É dali que se bombeia o sangue para todos os outros órgãos do corpo. Creio que dali se bombeiam também todas as ideias, proposições, porque a fé é uma proposta, não é algo impositivo.

Quais caminhos precisarão ser tomados para a evangelização em um ambiente que, embora católico, acolhe pessoas de todas as crenças e religiões?
Padre Arnaldo – O caminho é o mesmo de Cristo. Não existe outro: o caminho do diálogo, de estar próximo, porque não adianta eu falar de diálogo se não estiver próximo. O caminho também da paciência, como Deus tem paciência conosco; compreensão da história e realidade do outro; tolerância; diálogo; respeito; e manter firmes os propósitos e valores, que são as linhas mestras para qualquer tipo de evangelização. Mas o principal ponto é apresentar Deus de uma forma propositiva, nunca impositiva, para que as pessoas queiram e tenham vontade de fazer esta experiência também. A partir desse momento, estar disponível para que as pessoas realmente queiram conhecer cada vez mais.

Como as atividades da Igreja do Sagrado Coração de Jesus podem contribuir para a formação integral do ser humano, na perspectiva do diálogo entre fé e razão?
Padre Arnaldo – A igreja no campus tem que fazer com que haja, de uma certa forma, essa integração. Por exemplo, nós podemos fazer ali reflexões profundas sobre ética, saúde, comunicação e evangelização por meio dos símbolos. Podemos, sem desrespeitar o Sagrado, utilizar o espaço litúrgico, fazer uma formação de semiótica dos sinais. Ou seja, tem tudo para unir fé e razão. Eu conheço um grande professor de arte que era ateu, e foi por meio da arte que ele se converteu. Não foi por meio da pregação, dos documentos da Igreja, mas ele começou a querer se interessar e conhecer mais por meio da arte cristã na Europa. A partir disto, ele passou a se aprofundar mais e, passados alguns anos, houve o início de caminho de conversão ao cristianismo. É a questão que eu falei da paciência, e proporcionar do espaço sagrado o momento de encontro, seja especificamente para momentos de oração, missa, confissão, mas também proporcionar um espaço de reflexão.