Nutrição em Foco: Jornada propõe olhar sensível e interdisciplinar sobre o comer
30 de junho de 2025 as 06:30

Comer é mais do que nutrir: é cultura, escolha, contexto. Esse olhar ampliado sobre a alimentação está no centro da proposta da 3ª Jornada de Nutrição da PUC-Rio, que traz como tema “Tendências Contemporâneas e Abordagens na Nutrição: Comportamento Alimentar em Foco”. A professora Luciana Sarmento, coordenadora de graduação do curso, explica como a temática é estratégica para formar nutricionistas mais sensíveis, éticos e preparados para os desafios da profissão. Ao integrar saberes da psicologia, sociologia, comunicação e outras áreas, a jornada estimula uma visão crítica e interdisciplinar da prática nutricional.
Na entrevista a seguir, Luciana Sarmento, coordenadora da graduação de Nutrição da PUC-Rio destaca o papel da formação acadêmica na construção de um cuidado nutricional mais humano e eficaz — que compreende o comer em toda sua complexidade. Ela também comenta como temas como transtornos alimentares, introdução alimentar e longevidade contribuem para expandir o olhar dos estudantes.
Por que a escolha do tema “Tendências Contemporâneas e Abordagens na Nutrição: Comportamento Alimentar em Foco” é estratégica para a formação dos alunos e para o debate acadêmico dentro do curso de Nutrição da PUC-Rio?
A escolha é extremamente estratégica porque reflete uma compreensão atualizada e necessária sobre o papel da nutrição no século XXI, que sobrepõe a prescrição de dietas e do conhecimento técnico sobre alimentos.
Hoje, entende-se com clareza que não é possível dissociar a nutrição do comportamento alimentar, pois comer é uma prática humana que envolve múltiplas dimensões — biológicas, emocionais, psicológicas, sociais, culturais, econômicas e ambientais. A alimentação é, ao mesmo tempo, fisiologia e subjetividade, necessidade e escolha, cultura e contexto. Ignorar essas camadas é ignorar a própria complexidade do comer humano.
Nesse sentido, o comportamento alimentar se posiciona como eixo estruturante da atuação nutricional, independentemente da área em que o profissional atue. Seja no consultório, orientando indivíduos com diferentes vivências e relações com a comida; em unidades de alimentação e nutrição, elaborando cardápios para coletividades; em escolas, promovendo educação alimentar; ou ainda em políticas públicas, a compreensão ampla sobre por que, como, quando, o que e com quem se come é essencial.
A formação do nutricionista precisa acompanhar essa evolução do pensamento nutricional. O estudante que compreende as tendências contemporâneas e se aprofunda nas abordagens que valorizam o comportamento alimentar se torna um profissional mais sensível, ético, empático e efetivo. Ele se capacita a ouvir, observar, contextualizar, propor intervenções mais assertivas e respeitosas, adaptadas à realidade das pessoas e populações com as quais trabalha.
Além disso, esse tema também fortalece o debate acadêmico ao integrar diferentes campos do saber, como a psicologia, a sociologia, a antropologia, a economia e a comunicação, abrindo espaço para um olhar interdisciplinar e crítico. Estimula a pesquisa, a inovação e a construção de estratégias mais humanas e sustentáveis de cuidado nutricional.
Portanto, discutir o comportamento alimentar como eixo central das tendências e abordagens da nutrição é, mais do que uma escolha pertinente, um ato necessário para formar nutricionistas preparados para os desafios contemporâneos, capazes de enxergar o indivíduo em sua totalidade e de atuar com excelência técnica e sensibilidade humana em um mundo cada vez mais complexo e diverso.
Como a programação da Jornada, com temas como introdução alimentar, transtornos alimentares e longevidade, contribui para ampliar a visão dos estudantes sobre os desafios da prática profissional?
A programação da Jornada é fundamental para ampliar a visão dos estudantes sobre os desafios da prática profissional em Nutrição. Esses assuntos são centrais para a compreensão do comportamento alimentar e de como ele se constrói ao longo da vida, influenciado por diversos fatores.
A introdução alimentar, por exemplo, é um momento decisivo na formação dos hábitos alimentares. Não se trata apenas de oferecer alimentos, mas de como essa oferta é feita, a textura, a variedade, o ambiente e, principalmente, a relação entre a criança e o cuidador. Esses elementos impactam diretamente a forma como esse indivíduo vai se relacionar com a comida no futuro.
Os transtornos alimentares também merecem destaque. Eles são muito mais comuns do que se imagina, especialmente na sociedade em que vivemos hoje, marcada por padrões estéticos irreais, redes sociais e filtros que pressionam as pessoas a buscar corpos considerados “perfeitos”. Entender essas questões é essencial para qualquer nutricionista, já que esses transtornos afetam todas as faixas etárias e exigem uma escuta sensível e qualificada.
Já o tema da longevidade traz uma perspectiva cada vez mais atual. As pessoas vivem mais e, naturalmente, querem viver melhor. Com isso, cresce a demanda por saúde, autonomia e bem-estar ao longo dos anos, e a nutrição tem um papel central nesse processo. O nutricionista precisa estar preparado para atender essa população, compreendendo não só as mudanças fisiológicas, mas também os aspectos sociais e emocionais do envelhecimento.
A senhora acredita que discutir a evolução dos transtornos alimentares na sociedade moderna pode ajudar os alunos a atuarem de forma mais sensível e preparada frente a esses casos?
Sim, o debate é fundamental para formar profissionais mais sensíveis, atentos e preparados. Os alunos têm a chance de ouvir, falar, refletir e, principalmente, compreender a complexidade desses casos, que muitas vezes estão muito mais próximos do que se imagina — em amigos, familiares, pacientes. Esse tipo de discussão permite que o futuro nutricionista desenvolva um olhar mais empático, aprenda a identificar sinais sutis e saiba como agir com responsabilidade e acolhimento. Estar bem-informado é o primeiro passo para atuar com ética e eficácia diante de uma realidade tão delicada e crescente.
De que maneira o comportamento alimentar vem sendo trabalhado ao longo da graduação? Existe uma integração com os projetos de pesquisa e extensão da Universidade?
O comportamento alimentar vem sendo trabalhado de forma transversal e contínua ao longo da graduação. Ele aparece em diferentes disciplinas, desde aquelas ligadas à saúde pública até as mais técnicas, como dietética e nutrição nas fases da vida. Isso porque entendemos que comer vai muito além da escolha do alimento. Envolve cultura, emoção, ambiente, relações sociais e econômicas. Ao longo do curso, os alunos são incentivados a refletir sobre esses fatores em sala de aula e também nos projetos de pesquisa e extensão, que muitas vezes exploram justamente essa complexidade do comer. É um tema que perpassa toda a formação porque está na essência do cuidado nutricional: Compreender os contextos que envolvem o comer — o porquê, o como, o quando e com quem — é tão essencial quanto conhecer os nutrientes de um prato. É esse entendimento que transforma a nutrição em cuidado real e efetivo.
Qual o papel desse tipo de iniciativa na formação dos alunos e no fortalecimento do curso de Nutrição da PUC-Rio no cenário acadêmico e profissional?
Esse tipo de iniciativa tem um papel central. A Nutrição, por natureza, é um campo que dialoga com diversas áreas do conhecimento, e aqui na PUC-Rio temos o privilégio de contar com cursos fortes e consolidados que se conectam diretamente com ela.
Promover debates, trocas e reflexões por meio de eventos como este é uma forma concreta de mostrar o quanto a Nutrição é transversal e essencial para a construção de soluções reais para a sociedade. Falar de alimentação é falar de saúde, de meio ambiente, de cultura, de economia, de comportamento, ou seja, de temas que interessam e impactam toda a comunidade acadêmica.
Além disso, essas iniciativas refletem o próprio espírito da universidade: a interseção e o compartilhamento do saber. Quando o conhecimento circula, se encontra e se complementa, formamos profissionais mais críticos, sensíveis, preparados e conectados com os desafios do mundo atual. É esse olhar amplo, integrado e humano que faz da formação na PUC-Rio um diferencial.