Entrevistas

Patrick Chamoiseau na PUC-Rio: Literatura, Colonialidade e Consciência Negra em Debate

Por: Por Paula Halanna e Camila Guanabara*

Patrick Chamoiseau na PUC-Rio: Literatura, Colonialidade e Consciência Negra em Debate

Professora Aza Njeri, do LEPECAD, explica ao PUC Urgente como o livro e o diálogo com o ensaísta francês renovam os debates do 20 de Novembro e ampliam o olhar crítico sobre identidades (Foto: Ana Beatriz Magalhães / Comunicar)

Vencedor do Prêmio Literário Goncourt em 1992, o escritor Patrick Chamoiseau participa de uma conversa, quarta agora, dia 19, na PUC-Rio, para marcar o lançamento da primeira edição brasileira do livro “Escrever em um país dominado”. Publicada pela editora Bazar do Tempo, a obra tem tradução da professora da pós em Letras Clássicas da UFRJ Mariana Patrício e do doutorando em Relações Internacionais da PUC-Rio Ciro Oiticica. A conversa com o autor começa, às 11h, na Sala Cleonice Berardinelli, quarto andar do prédio Padre Leonel Franca.
Chamoiseau vem à Universidade a convite do Departamento de Letras e Artes da Cena, representado pela professora Ana Kiffer, também coordenadora da Coleção Édouard Glissant Bazar do Tempo, e da professora Aza Njeri, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares sobre o Continente Africano e as Afro-diásporas (LEPECAD). Aza explica, em entrevista ao PUC Urgente, por que o livro e o papo com o ensaísta francês enriquecem os debates em torno do Dia da Consciência Negra (20 de novembro) “e oxigenam as novas cartografias para pensar as identidades, apresentando um olhar crítico sobre temas contemporâneos e urgentes”.

O livro “Escrever em país dominado” entrelaça ensaio, memória e manifesto para pensar os efeitos da colonização sobre a linguagem e o imaginário. De que forma a edição brasileira contribui no contexto racial do país?
Aza Njeri:
A publicação dessa importante obra no Brasil traz fôlego e novos ângulos para debater e localizar os processos coloniais e seus desdobramentos a partir da localização da literatura, do escritor e do poder da palavra escrita em contextos de dominação.

Como a conversa com Chamoiseau pode influenciar debates em torno do Novembro Negro?
Aza Njeri:
Novembro Negro é o período do ano em que celebramos as múltiplas culturas afrodescendentes do nosso país e suas confluências. É uma data de luta, memória, história e orgulho. Por isso, entrar em contato com o pensamento de Chamoiseau oxigena o debate ao trazer novas cartografias para pensar as identidades negras, apresentando um olhar crítico sobre temas contemporâneos e urgentes. Portanto, nós celebramos também esta tradução e publicação como a abertura de mais um espaço de diálogo para as questões da negritude.

O livro foi publicado originalmente em 1997. Depois de quase 30 anos, por que a obra continua atual?
Aza Njeri:
Creio que a atualidade do livro também aponta para a permanência das questões coloniais e de desumanização. Então, apesar desses 30 anos de distância, estamos falando de discussões que não se apaziguaram e que, contemporaneamente, se apresentam com um sentido de urgência.

O que representa, neste sentido, o Dia da Consciência Negra?
Aza Njeri:
O Dia da Consciência Negra é um dia de celebração à vida e ao legado cultural das diversas heranças africanas na fundação e formação do Brasil. É um dia de memória, história, cultura e reparação. Além de ter um impacto pedagógico, pois coloca o debate racial em pauta, sob holofotes, promovendo reflexão em diversos âmbitos e ambientes.

Qual a importância de estimular encontros como este não só no mês de novembro, mas em todo o calendário letivo?
Aza Njeri:
É importante para a nossa formação sociocultural. Vivemos ainda num modelo em que a nossa humanidade é balizada por fatores coloniais e de dominação, como raça, gênero e classe, por isso a importância do debate constante. Porque o racismo, a LGBTfobia e o machismo não param. Então, concentrar exclusivamente essas pautas em datas específicas é importante, mas ainda insuficiente para o avanço da transformação de que precisamos.

*Sob supervisão das editoras