Entrevista

PUC-Rio organiza oficina de terapia para pessoas com demência

Por: Fernando Annunziata

PUC-Rio organiza oficina de terapia para pessoas com demência

Coordenador do curso de Neurociências, professor Daniel Mograbi: “demência não é sinônimo de envelhecimento” (Foto: Kathleen Chelles)

A PUC-Rio e o CST Brasil promovem um curso para estudantes e profissionais de saúde que desejam utilizar a Terapia de Estimulação Cognitiva (CST) em pessoas com demência. O objetivo do treinamento é ensinar uma visão geral de como o tratamento pode ser aplicado, além de mostrar informações sobre a CST e diferentes estágios de demência. A aula será no dia 10 de dezembro, das 9h às 17h, e vai ocorrer em modelo híbrido, presencial na PUC-Rio e on-line via Zoom, com certificado de 8 horas de curso. Um dos facilitadores do projeto, o Coordenador do curso de Neurociências, professor Daniel Mograbi, explica a importância de se investir cada vez mais em iniciativas para tratar da questão do envelhecimento. Para saber mais, acesse o site clicando aqui ou entre em contato com o e-mail: treinamento@cstbrasil.com.br.

O número de pessoas com mais de 60 anos no país é superior ao de crianças com até 9 anos. Segundo o IBGE, a tendência de envelhecimento da população vem se mantendo. Quais são as principais doenças decorrentes dessa realidade?
Daniel Mograbi:
Temos uma série de quadros que estão associados ao envelhecimento, como quadros cardiovasculares, hipertensão, colesterol, osteoporose, artrite e diabetes. Porém, é importante destacar que demência não é sinônimo de envelhecimento, ou seja, não é uma consequência natural dele. Mas é um quadro que tem a prevalência aumentada em idades mais avançadas. Há uma diferença entre envelhecimento saudável e envelhecimento patológico. Os casos demenciais representam o envelhecimento patológico.

Os facilitadores vão mostrar, de modo híbrido, 14 sessões temáticas e divertidas para estimular memória, linguagem e orientação dos que sofrem da doença. Este protocolo foi desenvolvido no Reino Unido e adaptado para o Brasil. Quais são as principais diferenças entre as duas populações de idosos?
Mograbi:
Há uma expectativa de vida mais alta dos idosos no Reino Unido, quase quatro anos a mais que no Brasil. E também uma provisão social mais robusta, como o nível educacional e acesso a serviços de saúde. Isto tem um impacto muito grande na qualidade de vida dos idosos.

A Terapia de Estimulação Cognitiva (CST) deveria se tornar fundamental para grande parte da população brasileira que não tem acesso aos medicamentos para demência? Os dois recursos devem ser utilizados ao mesmo tempo na terapêutica?
Mograbi:
O nosso plano é que a CST se torne uma realidade, tanto para aqueles que fazem uso de medicamentos, quanto para aqueles que não podem fazer uso por causa de efeitos colaterais, ou por ter um quadro que não é apropriado para remédios que tipicamente são usados para a demência. Os quadros vasculares, em geral, não se beneficiam da medicação. Nossa intenção é que a terapia seja amplamente acessível. Por isso, também testamos a implementação da CST em diferentes contextos, como no da saúde pública. E os dois recursos devem ser utilizados ao mesmo tempo, pois não existe um conflito entre eles. Os pacientes podem fazer a intervenção psicossocial com a medicação e, em alguns casos, aquelas pessoas que não são elegíveis para o uso de medicação podem fazer apenas a CST.

Como cada pessoa deve se relacionar com seus familiares e amigos que sofrem de demência? A quem pedir ajuda?
Mograbi:
Acima de tudo com humanidade e valores como cuidado e carinho. É um quadro muito difícil, que impacta a família e traz uma sobrecarga muito grande para os cuidadores. É comum que as pessoas recorram à ajuda externa e elas podem encontrar este auxílio em serviços de saúde e associação de cuidadores, que é muito valiosa para promover acesso a informações, além de mostrar que aquelas dores e dificuldades já foram vividas por outras pessoas. E também podem buscar apoio em associações internacionais como a Alzheimer’s Disease International (ADI), que dão informações e disponibilizam vários recursos. Outra alternativa é acessar atendimento de saúde e provisão de serviços que o governo oferece, como as casas de convivência da prefeitura e atividades de estimulação.