‘PUC-Rio tem a missão de formar pessoas com capacidade de pensar a complexidade do mundo e transformá-lo num lugar melhor’ Pe. Miguel de Oliveira Martins Filho, S.J., assume a Vice-Reitoria com o objetivo de acentuar a identidade comunitária e transformadora da PUC-Rio
30 de junho de 2025 as 06:30

Pe. Miguel: mundo mais sustentável e inclusivo passa pela metodologia sinodal e de construção coletiva
Por Cristian Caldas e Rafael Amorim*
Mobilizar a Universidade de modo que toda a comunidade acadêmica compartilhe o ideal de formar cidadãos capazes de “pensar a complexidade do mundo, promovendo justiça socioambiental, igualdade e inclusão”. Esta é a missão que o recém-empossado Vice-Reitor da PUC-Rio, Pe. Miguel de Oliveira Martins Filho, S.J., tem pela frente.
O jesuíta piauiense, convidado há dois anos pelo Papa Francisco para participar da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos em Roma, chega para acentuar a identidade comunitária da Universidade e o diálogo com a sociedade. Inspirado por Francisco, pretende promover também a interdisciplinaridade e a integração entre os departamentos da PUC-Rio.
Em entrevista ao PUC Urgente, o novo Vice-Reitor, também coordenador da Pastoral Universitária Anchieta, detalha desafios da Universidade. Ele assinala, por exemplo, a importância do ensino da Inteligência Artificial (IA) articulado à pluralidade de conhecimentos e reflexões. A Universidade, reitera Padre Miguel, é “o lugar do pensamento e da ciência”, espaço pródigo no desenvolvimento da IA. Mais do que isso, um espaço em que são “cultivados os valores da democracia, da solidariedade e do compromisso com a transformação do mundo”.
O que o motivou a aceitar o convite para Vice-Reitor?
Fiquei muito feliz pelo convite. Vejo a Universidade como um lugar onde se pode incidir na transformação da sociedade, do país, da comunidade. Um espaço em que são cultivados os valores da democracia, da solidariedade e do compromisso com a transformação do mundo. Como padre jesuíta, sinto que trabalhar aqui, nessa função, é um chamado a concretizar aquilo que é o meu ideal de vida.
Quais são as prioridades da sua gestão?
A gestão é uma só. Temos o Planejamento Estratégico 2024-2030 e o Plano Diretor Financeiro (PDF). Fui convidado a assumir a Vice-Reitoria com o objetivo de ajudar na identidade e missão da Universidade, que é comunitária: tem um papel de formar cidadãos capazes de transformar a sociedade. Esta é a missão da PUC-Rio. Quero contribuir para que os vários setores da Universidade cultivem essa identidade.
Como a integração entre Departamentos e Unidades contribuem para o desenvolvimento da Universidade?
A Universidade sempre vai trabalhar nessa transversalidade, no diálogo dos vários atores da Universidade, não só os departamentos e unidades. Todos precisam vivenciar a mesma identidade. A Vice-Reitoria deve ajudar a promover a interdisciplinaridade, porque o nosso desejo é que a identidade comunitária e a missão (socioeducativa) da Universidade sejam absorvidas e assumidas por todos.
O Reitor da PUC-Rio, Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J., costuma dizer que o Papa Francisco nos deixou tarefas, como construir um mundo mais sustentável, inclusivo, fraterno. Como o senhor pretende estimular essas pautas na Universidade?
Fui convidado (em 2023) pelo Papa Francisco para trabalhar no Sínodo em Roma, como um facilitador da dinâmica da conversação espiritual. Assim, eu posso ajudar nessas pautas, trazendo a metodologia sinodal, de construção coletiva, por meio da escuta e do diálogo.
O senhor também assume a coordenação da Pastoral Universitária Anchieta. Qual o papel central da Pastoral?
A Pastoral não se resume aos sacramentos. É um lugar onde se cultiva uma espiritualidade encarnada no cotidiano da comunidade universitária, principalmente na promoção dos valores humanos. Queremos refletir a questão da dignidade humana, da igualdade, das políticas anti-racistas, anti-machistas, ou seja, cultivar atitudes que nasçam do Evangelho. Inspirado pelo Papa Francisco, desejo uma sociedade mais inclusiva, mais justa, e uma Universidade que ajude as pessoas a saírem daqui capazes de dialogar com o diferente, na diversidade. Somos uma Universidade chamada, convidada e vocacionada a servir a sociedade como um todo.
A PUC-Rio inaugura, no segundo semestre, a graduação em IA, num contexto em que tecnologia, inovação e ensino estão cada vez mais interligados. De que forma essa conexão de saberes impulsiona o desenvolvimento da Universidade e da sociedade contemporânea?
É interessante pensar sobre essas questões relativas à IA, porque elas incidem nas nossas vidas. O Papa Francisco já falava sobre isso. O Papa Leão XIV está muito antenado e a própria Igreja, também. Somos uma Universidade, o lugar do pensamento e da ciência, logo precisamos conhecer e debater o papel dessa tecnologia em todos os campos da vida. Ela já perpassa todas as áreas do conhecimento. Hoje, aplicamos IA em tudo, portanto o curso é muito bem-vindo, mostra que a PUC-Rio está na ponta das inovações. Acho importante estar atento e investir nisso.
O Papa Francisco era muito aberto à ciência. E o Papa Leão XIV tem uma visão interessante, por já estar se preocupando com a IA, tendo o cuidado de ver a sociedade no que tem de mais complexo. O Papa Leão XIV, apesar de um estilo mais discreto, um pouco mais tímido do que Francisco, vai continuar toda essa visão de mundo, de uma Igreja sinodal e aberta, que busca dialogar e acolher a diversidade. Ele só tem dois meses de pontificado, mas, pelo que já mostrou, percebe-se que vai contribuir muito para esse debate.
O que o senhor espera deixar como legado?
Espero deixar a experiência de pensar em sonhos, de “inventar o chão para o sonho florescer”, como diz o poema “Sonho domado”, de Thiago de Mello. Ou seja, ajudar no discernimento das melhores práticas, atitudes e decisões que podemos tomar para pensar o sonho e traduzi-lo em estratégias para que se realize. A PUC-Rio tem a missão de ajudar a formar pessoas com capacidade de pensar na complexidade do mundo e de transformá-lo em um lugar melhor, com mais justiça socioambiental, igualdade e inclusão. Um mundo mais misericordioso. Vivemos um tempo de violência terrível e, como uma Universidade católica, precisamos levar a misericórdia e a ternura de Deus ao mundo. O lema da minha vida é ser, no mundo ferido, o instrumento da misericórdia de Deus. Eu quero ser esse instrumento aqui na Universidade.
- Com supervisão da professora-editora Luciana Brafman e da subeditora Daniela Lima.