Releitura da História
10 de outubro de 2014 as 06:30
O Instituto de Relações Internacionais (IRI) da PUC-Rio traz para a Universidade o seminário International Relations and the (Re) Invention of History. O objetivo é discutir as circunstâncias em que a história foi reinventada pelas relações internacionais a fim de entender os cenários do mundo contemporâneo. O encontro vai ser de quarta, 29, a sexta-feira, 31, no auditório do RDC, a partir das 9h. Organizador do seminário, professor João Pontes Nogueira explica a importância de reler a história para compreender a política mundial.
Como surgiu a ideia do seminário?
João Pontes Nogueira: A ideia surgiu no ano passado, quando várias matérias começaram a sair nos jornais e eventos foram organizados sobre os cem anos do início da Primeira Guerra Mundial. Nós achamos, então, que seria interessante fazer uma discussão sobre isso e, também, sobre outras datas coincidentes ou quase coincidentes, como os 25 anos da queda do Muro de Berlim. O ano de 2014 trouxe de volta, principalmente pelos cem anos da Primeira Guerra, a questão da história e do significado desses grandes eventos históricos como um caminho para entender o presente. Essa foi a origem da ideia. Pensamos que seria interessante ver como certos eventos contemporâneos são lidos através de certas interpretações históricas. Por exemplo, a invasão da Crimeia, como ela é justificada, legitimada ou interpretada através do passado, com relação entre Rússia imperial e Ucrânia, União Soviética e Ucrânia, e assim por diante. É a mesma coisa em relação a outros conflitos e crises que estão ocorrendo. Resolvemos ampliar um pouco a discussão para ver como o momento atual da política mundial traz à tona mais releituras da história do que trazia há dez anos.
No seminário, alguns fatos históricos específicos serão abordados?
Nogueira: Não há nenhum fato especifico, mas há intervenções que vão tocar em fatos específicos, como, por exemplo, cem anos da Primeira Guerra Mundial e Guerra Fria, momentos históricos importantes. O evento não está organizado em torno de acontecimentos históricos, mas de temáticas. No primeiro dia, vamos discutir o uso que os estudiosos de relações internacionais fazem da história para alguma finalidade politica. E temos uma visão muito crítica desse tipo de uso. Por isso, falamos que a história é sempre reinventada pela disputa que existe todo dia pela interpretação do que acontece hoje. O segundo tema abordará como a história pode contribuir para interrogar, criticar, problematizar esses usos instrumentais que o pessoal de política internacional faz do passado. Convidamos historiadores para nos ajudar a refletir como novas abordagens da história podem nos ajudar a pensar o presente, de maneira a não tratar a história como receptáculo de eventos do passado, mas pensar a história a partir de certos métodos que valorizem a história não como uma narrativa linear, porém mostrando a contingência do presente. Na terceira sessão, vamos discutir como a história pode ser plural, como há uma multiplicidade de histórias possíveis que muitas vezes não são consideradas na reflexão sobre a política internacional. Nesse terceiro momento, participarão autores que trabalham com essa temática para pensar a história como história universal.
Por que esses fatos históricos estão sendo repensados?
Nogueira: O que percebemos e queremos discutir é o porquê de essas datas terem se tornado importantes e como estão sendo discutidas agora. Uma coisa é você celebrar uma data como os cem anos do início da Primeira Guerra como um evento do passado em um tom estritamente acadêmico. Mas o que vemos, não só na mídia, mas nos trabalhos acadêmicos que surgem, é que há uma mobilização de novas interpretações sobre a origem da Primeira Guerra para entender o presente. Assim como a Primeira Guerra foi um momento de transição entre o fim do século XIX e o início do século XX, como dizia (Zygmunt) Bauman, muitos pensadores consideram o momento contemporâneo um momento de transição, ou de crise, da ordem internacional. Portanto, enxergam a discussão sobre Primeira Guerra Mundial como uma discussão que seja uma passagem de época. Não é completamente novo, mas essas celebrações trouxeram à tona uma disputa por uma interpretação do passado que talvez esteja mais intensa hoje.