Entrevista

Seminário aborda a vulnerabilidade social durante a pandemia

Por: Núbia Trajano

Seminário aborda a vulnerabilidade social durante a pandemia

O IBNequinho e a Mostra Carioca de Neuropsicologia promovem, nos dias 21 e 22 de maio, o seminário Vulnerabilidade Social na Pandemia da Covid-19. Durante os dois dias, haverá mesas-redondas, minicursos, fórum e atividades para promover a integração do saber científico entre professores e familiares. O encontro possibilita que alunos de graduação e pós-graduação apresentem pesquisas para diferentes públicos, como professores, profissionais da área de saúde e educação. Uma das organizadoras do projeto, a Vice-Presidente do Instituto Brasileiro de Neuropsicologia e Comportamento (IBNEC), professora Helenice Charchat, do Departamento de Psicologia, afirma que a vulnerabilidade social é um tema significativo e evidencia as diferenças socioculturais no Brasil, que influenciam no desenvolvimento cognitivo das crianças. Para se inscrever, clique aqui.

Qual o principal objetivo deste encontro entre o IBNequinho e a Mostra Carioca de Neuropsicologia?
Helenice Charchat:
O IBNequinho é um evento nacional, que ocorre todo ano, e é do IBNEC, que concentra trabalhos ligados à infância. A Mostra Carioca de Neuropsicologia é mais amplo, regional, inclui crianças, adultos, idosos, e sempre fazemos todo ano na PUC-Rio. A Mostra tem como objetivo integrar todos os pesquisadores da área de neuropsicologia clínica do Rio de Janeiro. Este ano, a diretoria do IBNEC resolveu unir estes dois encontros para trazer o evento nacional mais direcionado para os alunos da Universidade e para a PUC-Rio, de modo geral. Unir os dois ao mesmo tempo nos ajuda a fazer com que pesquisadores do Rio de Janeiro, da área de neuropsicologia clínica, possam interagir com os pesquisadores do Brasil e todos possam conhecer os dois eventos e participar nos anos seguintes.

O que é vulnerabilidade social, a partir dos aspectos da neuropsicologia?
Helenice Charchat:
A vulnerabilidade social é um tema muito importante, porque mostra as diferenças socioculturais que temos no Brasil. Uma das questões, em termos de vulnerabilidade social e neuropsicologia, é a influência de fatores demográficos como idade, escolaridade, nível socioeconômico, escolaridade dos pais, fatores locais, onde as pessoas vivem, a qualidade das escolas e da educação. Eles influenciam diretamente no desenvolvimento cognitivo das crianças. Dependendo do contexto sociocultural, ele envolve toda a caracterização educacional tanto dos pais quanto das crianças, para permitir a elas uma estimulação adequada. Isto vai ser extremamente importante para o desenvolvimento cognitivo e socioemocional das crianças. No Brasil, vemos diferentes fatores que influenciam esta vulnerabilidade. E a diferença sociocultural gera uma vulnerabilidade tão importante que, quando medimos, a partir de testes neuropsicológicos, o nível de inteligência, capacidade de memória, atenção, vemos uma diferença significativa entre o desenvolvimento cognitivo das crianças. Portanto, a vulnerabilidade social influencia muito o desenvolvimento. A ideia é poder discutir a heterogeneidade sociocultural e de estimulação que temos no Brasil, a privação que muitas crianças vivenciam, em um momento importante da maturação do sistema nervoso. Ele tem uma maturação na infância, que vai do nascimento até os 12 anos, e é crítico para o desenvolvimento cognitivo, que é a capacidade que as crianças desenvolvem das habilidades mais intelectuais, como a memória, a atenção, a capacidade de autonomia na tomada de uma decisão e, também, de organização.

Qual tipo de reflexão este encontro pretende levar aos participantes?
Helenice Charchat:
O foco principal é o quanto a pandemia da Covid-19 afetou, e ainda afeta, os aspectos neuropsicológicos em mudanças de comportamento, emoções, na cognição, no pensamento, na organização da vida das pessoas. Haverá um foco maior nos trabalhos de infância e adolescência, mas, na Mostra, vamos levar as questões para adultos e idosos. Chamar a atenção da privação da escola, o quanto isto afeta a vida dos pais e das crianças, até mesmo dos professores, e quanto a pandemia mudou os rumos destes processos. Um dos fóruns vai discutir como outros países da América Latina lidaram com a questão da Covid-19, no contexto educacional, no desenvolvimento cognitivo e socioemocional das crianças e adolescentes.

Como a pandemia impactou no aspecto social da população?
Helenice Charchat:
A pandemia impactou de uma forma muito significativa, inicialmente, vários fatores emocionais, gerando o aumento de ansiedade, depressão, tanto em crianças e adolescentes, assim como em adultos e idosos. Houve uma dificuldade grande da regulação das emoções, gerada pelo isolamento social. Outro aspecto é a relação familiar, as dificuldades, especialmente com crianças, pessoas com deficiência intelectual e, também, o autismo. Há o impacto do ponto de vista neurológico, já que a Covid-19 é uma infecção, o processo gera uma inflamação importante nas células do cérebro, e o pós-covid gera uma sequela neurológica significativa.

Qual é a importância da interdisciplinaridade entre neuropsicologia e neurociência neste momento de isolamento social?
Helenice Charchat:
A neurociência é uma área mais ampla, que inclui a neuropsicologia, e o estudo destes sistemas neurais ajuda a entender e a pensar em intervenções e estratégias de estimulação para que as pessoas, apesar do isolamento social, possam continuar se desenvolvendo cognitivamente. A neurociência é o estudo basicamente do cérebro.