Entrevistas

Teologia como autoconhecimento

Teologia como autoconhecimento

Quais são suas expectativas em relação à direção do Departa­mento de Teologia?
Padre Leonardo Agostini: 
É uma primeira experiência ocupando um cargo de grande relevância numa universidade como a PUC-Rio. O que se espera de um diretor é criar um bom ambiente de trabalho, isto é, favorecer o bom relacionamento dos professores entre si e destes com o corpo discente. E perceber que cada professor tem um perfil, assim como os alunos de Teologia têm suas características. É funda­mental respeitar a integridade do corpo docente e discente para a gente estabelecer metas, perceber com clareza as prioridades e dis­cutir a metodologia mais adequa­da. Devemos favorecer a busca do bem comum.

Como o senhor recebeu a in­formação de que assumiria a direção do Departamento de Teologia?
Agostini: 
Eu não esperava e não tinha criado nenhuma expectati­va. Quando soube que tinha sido indicado, eu recebi a informação com temor, tremor e confiança. Confiança porque o Reitor, pa­dre Josafá Carlos de Siqueira, me disse que meu nome foi ci­tado por vários professores do Departamento. Isso demonstra confiança, sensibilidade e cole­gialidade. Temor e tremor por­que são situações específicas de quem vai enfrentar uma realidade até então nova. Mas, como tra­balhamos em equipe, o papel do diretor não é mandar. O diretor deve trabalhar como um maestro de uma orquestra, na qual cada um tem um papel. E o maestro é aquele que vai ajudar que cada um faça o que lhe compete e pro­duza uma bela sinfonia.

Qual a importância de os alunos da graduação da PUC cursarem as disciplinas obrigatórias da Cultura Religiosa (CRE)?
Agostini: 
Nós estamos numa uni­versidade que é Pontifícia Católi­ca e que possui uma identidade e uma missão. O encontro dialogal com o Cristianismo é uma ocasião propícia para romper preconceitos. Como o ser humano, por meio do estudo, deve buscar alcançar o conhecimento de si mesmo, ao descobrir a sua identidade, ele pode entender o sentido da mis­são do curso pelo qual optou. Não existe uma profissão cujo fim últi­mo é a própria pessoa. Todas as profissões terminam sempre no próximo. Todo profissional deveria cultivar a alteridade. O aluno deve descobrir que sua profissão im­plica uma relação interpessoal, na qual ele encontra uma realização para si no momento em que per­cebe que ajuda outro a se realizar.

O senhor é pesquisador dos tex­tos bíblicos. De que maneira o es­tudo da Bíblia pode ser aplicado à vida do estudante?
Agostini: 
Uma obra tão antiga como a Bíblia já merece atenção de qualquer ser humano. Testemu­nha experiências humanas válidas no passado e ainda mais válidas nos nossos dias. É um texto com a finalidade de revelar quem é Deus. Mas, quando descubro quem é Deus, descubro quem eu sou. Ela nos permite conhecer culturas que não existem mais. Para quem acredita que se trata de um texto revelado, a Bíblia é uma biblioteca. Acessar a Bíblia é um encontro da experiência de um povo que descobriu Deus em seu cotidiano e não guardou isso para si, mas transformou essa experiência num livro aberto para todos. Ela tem du­pla autoria: Deus e o ser humano. É uma palavra encarnada.

Como o Departamento de Teolo­gia pode atrair estudantes que não professam uma religião ou não têm fé em Deus?
Agostini: 
Espero que os estudantes de outros cursos conheçam o De­partamento de Teologia, que trata, em última análise, do ser humano. Porque é o ser humano que per­gunta de onde veio, para onde vai, quem é, qual é a sua missão, por que existe a dor, a morte e o so­frimento. Não temos todas as res­postas. Mas, por meio dos textos bíblicos, podemos indicar passos que o ser humano pode dar para a descoberta da própria identida­de. A questão é que o ser huma­no quer ser feliz. O problema não está no querer, mas em como ser feliz. Nesse ponto, o Departamen­to de Teologia, por meio do corpo docente e dos cursos que oferece, pode dar a sua contribuição.