Entrevistas

Trazer a Amazônia para dentro da cidade

Trazer a Amazônia para dentro da cidade

Nesta segunda-feira, 8, o Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (NIMA) traz a presidente do Conselho Mundial da WWF, Yolanda Kakabadse, para ministrar a palestra Amazônia no Rio. O encontro, que será às 10h, no auditório do RDC, abordará questões relativas à Agenda de Seguridade Climática para a Amazônia e ao impacto que a destruição da floresta causa à cidade do Rio. O diretor do NIMA, professor Luiz Felipe Guanaes, explica a importância do debate neste momento em que há uma discussão sobre um novo Protocolo de Kyoto e que existe uma crise de abastecimento de água no Sudeste. A apresentação marca o início de uma parceria entre a WWF e a PUC-Rio para a criação de estágios destinados a alunos da área ambiental, além da realização de outras palestras e exposições ao longo do semestre.

Qual o objetivo do encontro?

Luiz Felipe Guanaes: O grande objetivo é trazer a Amazônia para dentro da cidade. O planeta é uma unidade. Se pensarmos em sustentabilidade do planeta, temos que pensar nele como um todo. E a Amazônia tem um papel absolutamente fundamental na tarefa do equilíbrio climático do mundo. Nós temos um sistema de resguardo, o Protocolo de Kyoto, que acaba em 2015, e já está sendo feita uma negociação internacional de como fazer um novo protocolo. Há um evento que antecede a isso, o COP-20, em Lima, em dezembro deste ano. Nossa intenção é aumentar a discussão interna na PUC-Rio, com o objetivo de criar um peso para que em Lima haja um consenso maior em termos de importância de meio- -ambiente, e que siga em 2015 um Protocolo de Kyoto mais estruturado. Estamos iniciando uma campanha de conscientização sobre a Amazônia.

Como surgiu a oportunidade de convidar a professora Yolanda Kakabadse?

Guanaes: Desde o ano passado, durante a Jornada Mundial da Juventude, a WWF teve uma parceria bastante importante dando suporte a viajantes, principalmente na Região Norte do país. Em função disso, acabei conhecendo a ONG, e nós percebemos uma série de sincronias em conjunto. No início deste ano, fizemos um convênio guarda-chuva com a WWF para o início de uma relação. Vamos fazer um canal real que possibilite criar estágios dentro da CCESP. Os alunos, principalmente os que têm interesse na área ambiental, têm uma carência muito grande de estágios. Eu acredito que ter uma formação teórica dentro da Universidade e ter a oportunidade de vivenciar uma prática dessas é muito interessante, é uma experiência de vida e uma experiência profissional.

Quais as consequências do desmatamento da Amazônia aqui no Rio?

Guanaes: O sistema hidrológico, as chuvas no Sudeste, dependem de parâmetros da Amazônia. Uma coisa conversa com a outra. Não adianta ser todo ecológico aqui e destruir a Amazônia lá, que vai ter efeitos extremos de chuvas ou secas aqui no Sudeste.

Qual o melhor caminho para a preservação da Amazônia?

Guanaes: O primeiro grande problema da Amazônia é ser composta por nove países. Cada estado divide as coisas com suas respectivas leis. Esse é o grande desafio: um consenso entre os países que compõem a Amazônia, a visão do conjunto. Primeiro, deve haver a integração política, para ter a integração legal, e com a integração legal, pode-se ter a integração econômica. O quarto pilar é ter uma integração entre os planos: que legislação, política e desenvolvimento econômico sejam vistos de tal maneira que todos cresçam e que não comprometam a Amazônia. Hoje existe uma desconexão, tudo funciona aleatoriamente. Mas o Brasil, apesar de tudo, tem uma importância enorme, porque a porcentagem de área amazônica brasileira é muito grande. Tudo que acontece aqui compromete o conjunto como um todo. Por isso, existe a necessidade das elites brasileiras e da população como um todo revalorizarem a importância da Amazônia e começarem a dar pesos e medidas às coisas. O imediatismo é um grande perigo na existência humana. Em nome de um superávit, se justifica, por exemplo, uma expansão na Amazônia cada vez maior de aproveitamento com soja e gado. Em termos de ecossistema, essa é a forma mais burra de aproveitar a Amazônia. Nós cometemos burrices enormes em cima de gerações futuras.