Um bom ano para os livros
16 de dezembro de 2016 as 06:30
Embora o país atravesse um momento de crise, a Editora PUC-Rio obteve sucesso quase recorde em número de publicações este ano, a maioria delas baseada no trabalho de pesquisadores e professores da Universidade. Essa é a prioridade da Editora, que, com 16 anos de existência, já publicou 312 livros em um formato de coedição com editoras comerciais, e não para de receber novas propostas. O editor, professor Fernando de Almeida Sá, explica o bom resultado alcançado em 2016 e revela alguns dos projetos para o ano que vem.
Como foi o ano de 2016 para a Editora?
Fernando Sá: Ao contrário das expectativas. Apesar da crise, a Editora foi bem, talvez por causa do nosso formato: publicamos quase todos os livros em coedição com editoras comerciais. Esperávamos que elas arrefecessem as atividades, como fizeram. Sentimos isso no primeiro semestre, em que lançamos pouquíssimos livros. Muitos foram adiados, empurrados para frente. Só que essas editoras reagiram no segundo semestre, e acabamos com uma produção quase recorde de praticamente 30 livros – mais de dois livros por mês, o que para a nossa estrutura é muita coisa. Quando uma crise econômica se instala no país, o setor editorial é o que sofre mais. O consumo de livros não é prioritário para o brasileiro, e é uma das primeiras coisas a serem cortadas e uma das últimas a serem reassumidas. Para ser consumidor de livros, são necessários pré-requisitos, diferente de um consumidor de música ou cinema: ser alfabetizado, ter alguma educação formal, ver a leitura como algo importante na vida.
Esse sucesso foi sentido em todo mercado editorial?
Fernando: Suponho que o nosso caso tenha sido excepcional, devido ao nosso formato. Muitas editoras cortaram publicações, adiaram lançamentos. Algumas preferiram esperar, outras investiram apenas no que é certo, que tem retorno obrigatório ou que está sendo produzido dentro de uma onda cultural específica. Aqui, existe também o mérito da qualidade do material que a PUC produziu este período, razão pela qual as editoras se interessaram em fazer os livros e colocá-los nas livrarias. Nesse formato, o livro não fica confinado em um depósito, como costuma ocorrer com outras editoras universitárias.
A Editora já tem projetos para o ano que vem?
Fernando: Já estamos com alguns livros no prelo, digamos assim, projetos fantásticos. Vamos lançar, com a editora Contraponto, o terceiro volume da biografia intelectual do filósofo Nietzsche, Nietzsche: vida e pensamento, do francês Charles Andler. É uma obra magnífica, que qualquer editora gostaria de ter. Teremos também uma coedição com a Edusp, da USP, uma análise das correspondências entre Mário de Andrade e Alceu Amoroso Lima, um dos fundadores da PUC. Estamos preparando o segundo volume dos Clássicos das ciências sociais, com a Vozes. Há um livro de um aluno de pós-graduação de Teologia sobre a religiosidade nos Andes, um trabalho muito interessante. Quando pegamos um texto desenvolvido aqui e oferecemos à sociedade, mostramos o tipo de pesquisa que se faz, o conhecimento que é produzido aqui dentro. Somos uma das formas que a Universidade tem para fazer o que chamamos de accountability, ou seja, dar uma satisfação para a sociedade, e também de participar dela.
O que isso significa para o livro impresso?
Fernando: Desde que comecei a trabalhar, há 40 anos, me dizem que o livro vai morrer. Só que o livro não acabou, para a nossa sorte. A digitalização revolucionou os mercados fonográfico e audiovisual, mas o nosso amigo Gutenberg teve uma inspiração secular e o livro está aí, no mesmo formato, há mais de 500 anos. O e-book não emplacou. Nas pesquisas, as pessoas respondem com muita candura: nada substitui o prazer de ter o livro nas mãos. A grande maioria dos livros que publicamos este ano foi em papel, mas alguns já foram concebidos como e-books. É o caso de pesquisas muito específicas. Não haverá interesse das editoras comerciais devido ao recorte do trabalho, mas pode ser que aquilo interesse à comunidade acadêmica. Uma das saídas para esse tipo de material é o e-book.