Destaque

Visita de Sachs fortalece “Amazonizar PUC-Rio” e impulsiona engajamento do Brasil com a Agenda da ONU

Visita de Sachs fortalece “Amazonizar PUC-Rio” e impulsiona engajamento do Brasil com a Agenda da ONU

Professora Maria Elena Rodriguez: ideias de Sachs são relevantes para enfrentar os desafios globais

Nesta terça-feira, 13 de maio, a PUC-Rio recebe o economista Jeffrey D. Sachs, professor da Columbia University e presidente da Rede Global de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN, na sigla em inglês), da ONU. Referência mundial em sustentabilidade, Sachs ministrará a Aula Magistral “Brasil, Desenvolvimento Sustentável e o Mundo Multipolar”, às 11h30, no Auditório do RDC, com transmissão ao vivo e tradução simultânea. A visita reforça o papel da Universidade na coordenação do capítulo brasileiro da SDSN.

A aula de Sachs integra a programação do metaprojeto “Amazonizar: da Laudato Si’ à COP 30”. Entre as atividades desta semana, destaca-se também a visita da professora Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e presidente da Fundação UCP desde 2016, que ministrará a Aula Magistral “Elogio da Esperança: Um olhar cultural sobre a ecologia integral em tempo de disrupção”, na quinta-feira, dia 15, às 9h30, no Auditório do RDC. O Congresso da RUC, rede de universidades católicas, e o Simpósio Laudato Si’ complementam os eventos do mês de maio ligados ao Amazonizar.

Para contextualizar a importância da presença de Sachs, o PUC Urgente conversou com a professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio e pesquisadora do Brics Policy Center Maria Elena Rodriguez, representante da Universidade na SDSN e titular na Comissão Amazonizar da PUC-Rio. Maria Elena destaca os principais temas abordados por Sachs e reflete sobre os desafios urgentes que conectam o Brasil ao cenário global.

Qual o papel da SDSN, instituição presidida por Sachs?
A Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN – Sustainable Development Solutions Network) é uma iniciativa global lançada pela ONU em 2012 para mobilizar conhecimentos científicos e técnicos, visando promover soluções práticas para os desafios do desenvolvimento sustentável. A SDSN opera através de redes regionais e nacionais, incluindo a SDSN Brasil, cuja coordenação do capítulo Brasil é liderada pela PUC-Rio. A SDSN, presidida por Jeffrey Sachs, desempenha um papel crucial no cenário global atual, com foco na mobilização do conhecimento científico e da inovação para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Sua importância reside em diversas áreas: Mobilização de Conhecimento e Expertise; Apoio à Implementação dos ODS; Fomento à Cooperação Multilateral; Desenvolvimento de Soluções Inovadoras; Criação de Redes e Plataformas de Diálogo; Produção de Relatórios e Análises; e Engajamento da Juventude. Ou seja, atua como uma ponte entre a ciência, a política e a prática para impulsionar o desenvolvimento sustentável. Sua capacidade de mobilizar conhecimento, fomentar a colaboração e gerar soluções inovadoras a torna uma instituição fundamental na busca por um futuro mais justo, próspero e ambientalmente sustentável.

Qual a importância das ideias defendidas por Sachs no mundo atual?
As ideias defendidas por Sachs têm grande importância no mundo atual, especialmente em relação aos desafios globais interconectados que enfrentamos. Elas oferecem um framework abrangente e integrado para abordar esses desafios, fornecendo um guia valioso para líderes, formuladores de políticas e a sociedade civil na busca por um futuro mais justo, próspero e ambientalmente seguro para todos. Sua capacidade de conectar a academia com a prática política e seu engajamento com as Nações Unidas amplificam esse destaque no cenário global contemporâneo.

Você poderia exemplificar algumas dessas ideias?
1
– Desenvolvimento sustentável como paradigma central: Sachs é um dos maiores defensores do desenvolvimento sustentável, enfatizando a necessidade de integrar as dimensões econômica, social e ambiental para garantir um futuro próspero e equitativo para todos, sem comprometer os recursos naturais para as futuras gerações. Ele defende o Acordo de Paris e propõe a taxação de grandes poluidores, investimento massivo em energias renováveis e a cooperação global para evitar catástrofes climáticas.
2 – Defesa dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e erradicação da pobreza extrema: Sachs foi um dos principais arquitetos dos ODS da ONU (2015-2030), que orientam políticas públicas em todo o mundo. Ele argumenta que é possível erradicar a pobreza, reduzir desigualdades com investimentos coordenados em saúde, educação e infraestrutura sustentável.
3 – Crítica ao “Neoliberalismo Radical” e defesa do papel do Estado:
Sachs critica o fundamentalismo de mercado e a austeridade excessiva, defendendo que os governos devem investir em saúde pública, educação e inovação tecnológica e infraestrutura verde.
4 – Reformas na arquitetura financeira internacional: ele critica as falhas do sistema financeiro internacional, que muitas vezes penaliza os países mais pobres e dificulta o financiamento para o desenvolvimento sustentável, e propõe reformas na governança de instituições como o FMI e o Banco Mundial.
5 – Cooperação internacional contra o unilateralismo e o isolacionismo: seu argumento é que problemas como mudança climática, pandemias, pobreza e instabilidade econômica exigem soluções coordenadas e a colaboração entre nações, organizações internacionais e a sociedade civil.

Como Sachs pode contribuir para a economia brasileira, através de suas propostas sobre desenvolvimento sustentável?
A experiência e as propostas de Sachs podem contribuir significativamente para a economia brasileira de diversas maneiras, como no combate à pobreza e desigualdade com políticas baseadas em evidências. Nesse caso, Sachs defende que a pobreza pode ser erradicada com investimentos direcionados em saúde, educação e infraestrutura. No Brasil, isso poderia incluir expansão de programas de transferência de renda, integrados à capacitação profissional, investimento em pré-escola e nutrição infantil e tributação progressiva para financiar políticas sociais, entre outros.

Em outra frente, de agricultura sustentável e segurança alimentar, Sachs defende práticas agrícolas que aumentem a produtividade sem degradar o meio ambiente. Para o Brasil, um gigante agrícola, isso implica promover a agricultura de baixo carbono, a recuperação de pastagens degradadas, o manejo florestal sustentável e a valorização da biodiversidade. Suas ideias podem inspirar políticas que conciliem a produção de alimentos com a conservação ambiental, fortalecendo a segurança alimentar e gerando valor para os produtos brasileiros no mercado internacional.

Suas ideias também validam a proposta de desenvolvimento regional sustentável, com foco na Amazônia, com um modelo de bioeconomia que valorize a floresta em pé, gerando renda para as comunidades locais através do manejo sustentável de seus recursos, da pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e da criação de cadeias de valor inovadoras. Priorização de energias renováveis e pagamento por serviços ambientais estão no foco.

A partir de investimentos em educação, saúde e segurança alimentar, áreas consideradas cruciais para o desenvolvimento econômico de longo prazo, e um olhar para a Agenda 2030 e os ODS, as propostas de Sachs ajudam a alinhar as políticas econômicas brasileiras com objetivos de longo prazo, que visam um crescimento inclusivo, sustentável e resiliente. A SDSN Brasil, inclusive, atua nesse sentido, buscando soluções para o desenvolvimento urbano sustentável e a implementação do ODS 11, com o incentivo a indústrias verdes, parcerias com China e UE em tecnologia limpa e cidades inteligentes com transporte público sustentável.

Você poderia comentar sobre a relevância da presença de Sachs na PUC-Rio, em um momento tão simbólico como o que estamos passando?
A visita de Jeffrey Sachs à PUC-Rio é de extrema relevância simbólica e estratégica para o Brasil, especialmente neste momento de profundas transformações globais e nacionais, reforçando o papel da Universidade como Centro de Pensamento e Formação, dando continuidade e aprofundamento do debate sobre desenvolvimento sustentável, fortalecendo o “Amazonizar PUC-Rio”, posicionando o Brasil no Cenário Multipolar e impulsionando o engajamento com a Agenda da ONU e os ODS. A própria conexão institucional de Sachs com a PUC-Rio, através da coordenação do capítulo Brasil da SDSN, sublinha uma parceria já existente e frutífera. Sua visita, portanto, não é um evento isolado, mas sim um fortalecimento de laços e um reconhecimento da importância da Universidade como um polo de produção de conhecimento e de engajamento com a agenda do desenvolvimento sustentável no país.

O que é um mundo multipolar, conceito de referência na palestra de Sachs?
Um mundo multipolar é um sistema internacional no qual o poder e a influência globais são distribuídos entre múltiplos polos ou centros de poder significativos, não concentrados em uma única superpotência ou em duas. No contexto da palestra de Sachs, esse conceito é central porque reflete a realidade atual (os EUA já não dominam sozinhos) e reconhece a ascensão de novos centros de poder, com a crescente influência de países como China e Índia, além de blocos regionais. A multipolaridade pode tanto apresentar desafios (competição por recursos, diferentes prioridades) quanto oportunidades (novas parcerias, diversificação de financiamento) para a agenda do desenvolvimento sustentável. Além disso, as instituições internacionais, como a ONU e as instituições financeiras multilaterais, precisam se adaptar a essa nova realidade multipolar para manter sua relevância e eficácia. E um mundo multipolar pode abrir caminho para novas formas de cooperação Sul-Sul e outras alianças que buscam promover o desenvolvimento sustentável de maneira mais equitativa.
_____________________________________________________________________________________________________________

Amazonizar PUC-Rio nasceu da reflexão sobre o papel da Universidade em um país que abriga parte significativa do território amazônico. É um metaprojeto dotado de múltiplos aspectos. É um método que propõe um processo contínuo de aprendizado, escuta e diálogo com os saberes dos povos originários e o ecossistema, entendendo os desafios sociais, ambientais e espirituais enfrentados pela Amazônia e o planeta para desenvolver soluções científicas e tecnológicas que atendam demandas reais.

Amazonizar PUC-Rio é compromisso com a ecologia integral, inspirado pela encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco e pelo Sínodo da Amazônia, e tem impacto estruturante no modo de vida e na produção de conhecimento da instituição – em ensino, pesquisa e extensão. É uma abordagem transversal, um ecossistema de eventos e ações sociais sob a mesma identidade. É uma construção viva, coletiva em constante movimento, que reafirma o papel da Universidade como espaço de formação integral em defesa da Casa Comum.