Entrevistas

70 anos em grande estilo

Por: Victória Reis

70 anos em grande estilo

A inovação sem esquecer a tradição faz parte do DNA do Departamento de Comunicação, que completa 70 anos. Com o intuito de celebrar a data especial, o professor emérito da UFRJ, Muniz Sodré ministrará a Aula Inaugural no dia 11 de abril, às 11h, com o tema “Comunicação, fala e verdade”. A diretora do Departamento de Comunicação, professora Tatiana Siciliano, o professor titular Everardo Rocha e a assessora do departamento Valéria Pessanha conversaram sobre o momento especial que o departamento vive.

Qual a importância de receber o professor Muniz Sodré na Aula Inaugural do Departamento de Comunicação?

Tatiana Siliciano: O Sodré, com 80 anos de idade, é uma das pessoas mais contemporâneas que existe. Ele escreve semanalmente para a Folha de S. Paulo, lançou recentemente o livro A sociedade incivil que fala sobre os algoritmos e democracia, além de praticar karatê e ter uma religiosidade muito grande. O Sodré entende a comunicação como potência e ponte de diálogo, o que é fundamental, principalmente nos dias atuais.

Everardo Rocha: O Muniz Sodré é um dos primeiros pensadores, que abriu diferentes portas de análise sobre televisão, cultura brasileira, comunicação e jornalismo. Ele é um pensador brilhante de uma criatividade extraordinária e, ao mesmo tempo, um dos principais fundadores da comunicação no Brasil. Nós temos a junção da celebração de 70 anos de departamento e um dos principais comunicadores do país e não poderia haver melhor escolha para a Aula Inaugural. É um casamento perfeito.

Nos 70 anos do departamento ocorreram diversas mudanças, e a mais recente foi a reforma curricular para Jornalismo e a criação do curso de Estudos de Mídia. Como acompanhar estas transformações?

Tatiana: É muito complexo acompanhar este ritmo. Parece que voltamos àquela ideia do Marx no Manifesto Comunista de que tudo o que é sólido se desmancha no ar. Parece que tudo se dissolve e estamos tentando construir alguma coisa, porque está mudando a percepção. Se pensar cognitivamente, quando damos aula, os alunos já são educados digitalmente, o que muda uma percepção e forma de cognição do aprendizado. Para nós também é um aprendizado neste sentido, mas ao mesmo tempo temos uma experiência de conhecimentos e estamos aprendendo com os novos códigos e tentamos fazer esta ponte da melhor forma possível com informação, produtos culturais. Para o profissional de comunicação não existe um preconceito com o podcast, telenovela, seriado, best-seller, tudo isto é objeto da comunicação e é bom para pensar a comunicação. Como também os dispositivos e a tecnologia servem como ferramenta para a comunicação.

Everardo: A atualização do departamento aconteceu no momento certo e compatível com o momento que estamos vivendo. Ainda que muitas coisas novas apareçam e se transformem, esta nova configuração que começou terá uma durabilidade grande até que se forme uma massa crítica que leve a uma futura transformação daqui a algum tempo.

Valéria Pessanha: Embora ouçamos que a natureza não dá saltos e que as coisas acontecem de forma lenta, acredito que na comunicação as coisas se transformem muito rápido. Em termos técnicos, quando cheguei aqui, o que tinha de mais moderno era uma máquina de escrever elétrica e era uma tecnologia de ponta. Em dez anos, o computador dominou tudo, e as máquinas desapareceram. Então percebemos como a tecnologia mudou rápido.

Quais são os projetos e planejamentos para os próximos anos de departamento?

Tatiana: O fortalecimento dos cursos de Estudos de Mídia, Jornalismo e da pós-graduação, isto dentro de uma perspectiva contemporânea. Nós olhamos grades dos cursos de fora do país, fizemos consultas ao mercado, conversamos com egressos e formandos. O departamento não nasceu agora, mas sim de várias pessoas e começou lá atrás com a Filosofia, passou a ser de Comunicação e já foi polivalente.

Everardo: As transformações não têm o mesmo ritmo da informação e rapidez das coisas da vida. Tem que ter uma massa crítica para que as mudanças possam ser feitas e avançar no sentido de um departamento com mais qualidade e força. Fomos fazendo as coisas no ritmo que achamos mais adequado, e acho que estas últimas mudanças ficarão durante um certo tempo, como é o normal das coisas. O nosso ritmo de mudança acompanha o mundo, mas não é o mundo, tem uma outra forma de ler o que está acontecendo, e a partir daí com a massa crítica numa reflexão sobre isto, você agrega uma transformação na estrutura departamental. Acredito que estamos acompanhando bem as novas tecnologias e tenho muito orgulho de pertencer a esse departamento.

Valéria: A comunicação está sempre em andamento e isto traz uma ideia de renovação e frescor, e, para nós que trabalhamos, a sensação é de estar com outro público, jovem, com outra cabeça. Com todas essas inovações, temos sempre coisas novas acontecendo, e o departamento, no futuro, tem que acompanhar essas mudanças, até porque o curso exige isto. E, tecnologicamente, nós temos que acompanhar também.

Nos últimos dois anos, o ensino teve que ser adaptado para as telas e houve um distanciamento entre professores, alunos e funcionários. Qual a importância de retomar aos poucos a relação presencial, principalmente para um curso que valoriza a troca de diálogo?

Tatiana: Eu sempre adorei o presencial, acredito que é o que dá sentido para nós e para o espírito da Universidade. Víamos os alunos que estavam há dois anos sem pisar no campus e não tinham incorporado o espírito universitário que se dá nos pilotis, na troca, interação, nas redes que se constrói. Mas o que eu acho mais interessante é que depois que passamos por isso, enxergamos como a tecnologia é fundamental porque ela nos permite sobreviver, mas ainda assim, ela não substitui o afeto humano. Acredito que este aprendizado faz com que possamos ser melhores professores e seres humanos.

Everardo: Particularmente, eu acho maravilhoso, porque adoro dar aula e estar presente com os alunos em sala de aula, logo foi um enorme prazer para mim. Apesar de ainda ter que usar máscara, é muito bom voltar a ter esse contato e espero que voltemos ao que era antes, sem perder as tecnologias que nos apoiaram.

Valéria: Nada substitui o presencial e o contato com as pessoas. O trabalho até que fluiu bem com a tecnologia e eletrônicos em casa, mas nada substitui o contato, toque, abraço e poder interagir. Foi um momento em que as pessoas estiveram próximas, mas distantes. Estávamos sempre por trás de um vídeo, se vendo, mas o reencontro é muito emocionante. Parecia que estávamos viajando para um lugar distante e que não nos víamos há muito tempo.