Entrevistas

A reforma de Francisco

A reforma de Francisco

Padre Mario de França Miranda, S.J. Foto: Fernanda Maia

O I Simpósio Internacional: A Eclesiologia do Papa Francisco será realizado entre quinta-feira, 7, e sábado, 9, no Mosteiro de São Bento. O objetivo é reunir especialistas, estudiosos da Bíblia, da história da Igreja, da moral e do Direito Canônico. Organizado pela Sociedade Brasileira de Teologia Sistemática, em parceria com Sociedade de Teologia e Ciência da Religião (Soter), o encontro terá a participação de intelectuais de diferentes países. Professor do Departamento de Teologia, padre Mário de França Miranda, S.J., que é um dos organizadores do Simpósio, explica quais as diretrizes da Conferência.

Como ocorreu a escolha do tema para o primeiro simpósio?

Padre Mário de França Miranda: A escolha do tema se deve ao fato de o Papa Francisco estar realizando uma reforma na Igreja muito importante. Uma das bandeiras que ele deixou clara, desde o início, era a descentralização da Cúria Romana, autonomia das igrejas locais, dos bispos, e maior participação de todos dentro da Igreja, principalmente do laicato e das mulheres, fazendo com que tenham consciência da sua identidade e da sua missão. O sentido da Igreja é levar a missão de Jesus Cristo, que é implantar o Reino de Deus, que é humanizar a sociedade, continuar o trabalho dele através da história.

Quais os assuntos que serão abordados nos debates?

Padre França: Vamos abordar a eclesiologia do Papa Francisco. Quais as linhas fundamentais do seu modo de ver a Igreja, a participação dos leigos, a opção pelos pobres, a questão da igreja local, a participação de uma nova maneira de missão, trabalho e pastoral. Tudo isso será abordado por meio de palestras e conferências. Nós pretendemos, no futuro, publicar esses trabalhos, para que as pessoas tenham uma consciência do que está por trás da ação de Francisco como Papa. É algo bem definido, mas é preciso que se reflita e mostre isso pela palavra e pelos textos que ele já emitiu. Há convidados da América do Sul, Espanha e de diferentes partes do Brasil.

Como foi a escolha dos convidados?

Padre França: Nós convidamos o teólogo Salvador Pié-Ninot, catalão, que já ensinou em Roma, na Universidade Gregoriana. Ele vai realizar a abertura do primeiro dia e fazer uma espécie de quadro geral dessa eclesiologia, que depois vai ser tratada minuciosamente pelos demais conferencistas. Teremos duas modalidades de participantes, uma é mais aberta, qualquer pessoa que tenha curso de teologia, graduação, ou mesmo mestrado pode participar. E vamos ter um grupo mais reservado, para aqueles que têm doutorado em Teologia, que será um grupo de especialistas, de pesquisadores.

Quais são as contribuições que o Pontificado de Francisco trouxe para a Igreja?

Padre França: Primeiro, a participação do laicato e a descentralização da Igreja, que passa a ouvir mais as comunidades locais. Também a preocupação da enculturação da fé, perceber que a Igreja da África, da Ásia e da Índia têm algo a dizer; respeitar as culturas locais e a maneira de ser deles. E, sobretudo, um ponto que acho forte no pontificado dele, é colocar Jesus Cristo no centro. Como dizem, é uma volta ao Evangelho, uma volta àquilo que é mais central. No trabalho de evangelização, Francisco está indo no que é mais nuclear, fazendo o bem, a caridade, e isso é ser cristão, encontrar Deus no próximo. O mundo hoje vive uma série de conflitos.

Qual o papel do Papa Francisco neste contexto tão conturbado?

Padre França: O problema principal é essa pressão do econômico, que faz com que cada país pense em si próprio. Muitos falam que existe um individualismo pessoal e um individualismo nacional. O Papa tenta mostrar que esse não é o caminho e, do mesmo modo que ataca um sistema totalitário socialista comunista, ataca também um sistema totalitário capitalista. Francisco faz gestos para mostrar que a sociedade está sendo desumana. Fazer de fato o que Deus quer é o que possibilita uma sociedade justa, que Jesus chamava o Reino de Deus, porque Deus está feliz se a gente está feliz. Ele quer que a gente conviva, e eu acho que, nesse ponto, este Papa tem muito claro e tem batido muito forte.