Entrevista

Geografia das religiões no Brasil

Geografia das religiões no Brasil

Em seguimento ao estudo da geografia das religiões no Brasil, o diretor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, professor Cesar Romero Jacob, e os pesquisadores Dora Rodrigues Hees, também da PUC, e Philpipe Waniez, da Universidade de Bordeaux, na França, lançam o e-book Religião e Território no Brasil: 1991/2010. A novidade deste novo trabalho é a análise dos dados do IBGE nas últimas duas décadas dentro do contexto das políticas de estabilização da economia no governo de Fernando Henrique Cardoso e das de inclusão social do governo Lula. O livro já está disponível para download gratuito na página da Editora PUC.

Por que o senhor decidiu lançar este estudo em e-book? Como podemos acessá-lo?

Cesar Romero: Quando lancei meus estudos anteriores, fui convidado por várias dioceses do país que me chamaram para explicar o que os dados revelam. Esses livros são caros – 250 páginas coloridas, quase R$ 100. Eu fazia as palestras e percebia que as pessoas não tinham os livros. Ao falar para eles, entre padres, freiras e leigos católicos, me perguntava: quantas pessoas irão adiante para estudar mais sobre o assunto? Muito poucas. É uma contribuição que nós, da PUC, estamos oferecendo para facilitar a compreensão e o acesso a esses dados.

Qual a importância de fazer uma demarcação das filiações religiosas brasileiras nas duas últimas décadas?

Cesar: As filiações religiosas no Brasil mudaram muito. O IBGE publica as médias nacionais, mas essas médias escondem a grande diversidade que existe sobre o território. Queremos entender melhor o que está acontecendo no Brasil, sobretudo porque o país caminhou nas últimas décadas para o estabelecimento do pluralismo religioso.

No livro, o senhor afirma que nas metrópoles do Rio de Janeiro e de São Paulo existe uma concentração maior de fiéis pentecostais nas áreas mais pobres dessas duas cidades. A ausência do poder público nas áreas carentes é a principal causa a ser apontada?

Cesar: O problema é o caos social. Nesses últimos 20 anos, São Paulo e Rio de Janeiro receberam, cada uma, cerca de dois milhões de pessoas. Isso não é trivial. Não há prefeitura que dê conta de incorporar essa quantidade de gente. Quantas cidades europeias têm dois milhões de habitantes? É claro que nessas duas metrópoles o caos é maior, há falta de moradia, saneamento básico, escola, hospital, segurança pública etc.

Nas últimas décadas, pelo menos a partir de 1980, o senhor constatou um decréscimo em termos percentuais do número de fiéis da religião católica. Como ocorreu esse fenômeno? Com a Jornada Mundial da Juventude no próximo mês, existe uma possibilidade de mudança nesse quadro?

Cesar
: Com a ausência do Estado e a presença insuficiente da Igreja Católica na periferia, as condições sociais favoreceram o crescimento das igrejas pentecostais. O dado fundamental que quero mostrar é que o ingrediente facilitador que permitiu o crescimento pentecostal está sendo superado, por meio da combinação da estabilização da economia dos anos 90 com a inclusão social dos anos 2000.

Se fosse possível fazer uma projeção das expansões religiosas nas próximas décadas, as correntes pentecostais continuariam a crescer?

Cesar: Apesar das melhorias das condições sociais no Brasil, as correntes pentecostais continuarão a crescer, mas em um ritmo menor, e a Igreja Católica continuará perdendo fiéis, mas também em um ritmo menor. As condições sociais que possibilitaram a onda pentecostal estão sendo superadas, e o que decidirá o futuro, de cada uma dessas vertentes do cristianismo, será a sua ação pastoral.